AMIGOS QUE ADORO!!!

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

ENSAIO SOBRE A AMIZADE por LYA LUFT


"Nesta página, hoje, sem razão especial
nem data
marcada, estou homenageando
aqueles que têm estado comigo seja
como for, para
o que der e vier"


Que qualidade primeira a gente deve esperar de alguém com quem pretende um relacionamento? Perguntou-me o jovem jornalista, e lhe respondi: aquelas que se esperaria do melhor amigo. O resto, é claro, seriam os ingredientes da paixão, que vão além da amizade. Mas a base estaria ali: na confiança, na alegria de estar junto, no respeito, na admiração. Na tranqüilidade. Em não poder imaginar a vida sem aquela pessoa. Em algo além de todos os nossos limites e desastres.

Talvez seja um bom critério. Não digo de escolha, pois amor é instinto e intuição, mas uma dessas opções mais profundas, arcaicas, que a gente faz até sem saber, para ser feliz ou para se destruir. Eu não quereria como parceiro de vida quem não pudesse querer como amigo. E amigos fazem parte de meus alicerces emocionais: são um dos ganhos que a passagem do tempo me concedeu. Falo daquela pessoa para quem posso telefonar, não importa onde ela esteja nem a hora do dia ou da madrugada, e dizer: "Estou mal, preciso de você". E ele ou ela estará comigo pegando um carro, um avião, correndo alguns quarteirões a pé, ou simplesmente ficando ao telefone o tempo necessário para que eu me recupere, me reencontre, me reaprume, não me mate, seja lá o que for.
 
Mais reservada do que expansiva num primeiro momento, mais para tímida, tive sempre muitos conhecidos e poucas, mas reais, amizades de verdade, dessas que formam, com a família, o chão sobre o qual a gente sabe que pode caminhar. Sem elas, eu provavelmente nem estaria aqui. Falo daquelas amizades para as quais eu sou apenas eu, uma pessoa com manias e brincadeiras, eventuais tristezas, erros e acertos, os anos de chumbo e uma generosa parte de ganhos nesta vida. Para eles não sou escritora, muito menos conhecida de público algum: sou gente.
 
A amizade é um meio-amor, sem algumas das vantagens dele mas sem o ônus do ciúme – o que é, cá entre nós, uma bela vantagem. Ser amigo é rir junto, é dar o ombro para chorar, é poder criticar (com carinho, por favor), é poder apresentar namorado ou namorada, é poder aparecer de chinelo de dedo ou roupão, é poder até brigar e voltar um minuto depois, sem ter de dar explicação nenhuma. Amiga é aquela a quem se pode ligar quando a gente está com febre e não quer sair para pegar as crianças na chuva: a amiga vai, e pega junto com as dela ou até mesmo se nem tem criança naquele colégio.
 
Amigo é aquele a quem a gente recorre quando se angustia demais, e ele chega confortando, chamando de "minha gatona" mesmo que a gente esteja um trapo. Amigo, amiga, é um dom incrível, isso eu soube desde cedo, e não viveria sem eles. Conheci uma senhora que se vangloriava de não precisar de amigos: "Tenho meu marido e meus filhos, e isso me basta". O marido morreu, os filhos seguiram sua vida, e ela ficou num deserto sem oásis, injuriada como se o destino tivesse lhe pregado uma peça. Mais de uma vez se queixou, e nunca tive coragem de lhe dizer, àquela altura, que a vida é uma construção, também a vida afetiva. E que amigos não nascem do nada como frutos do acaso: são cultivados com... amizade. Sem esforço, sem adubos especiais, sem método nem aflição: crescendo como crescem as árvores e as crianças quando não lhes faltam nem luz nem espaço nem afeto.
 
Quando em certo período o destino havia aparentemente tirado de baixo de mim todos os tapetes e perdi o prumo, o rumo, o sentido de tudo, foram amigos, amigas, e meus filhos, jovens adultos já revelados amigos, que seguraram as pontas. E eram pontas ásperas aquelas. Agüentei, persisti, e continuei amando a vida, as pessoas e a mim mesma (como meu amado amigo Erico Verissimo, "eu me amo mas não me admiro") o suficiente para não ficar amarga. Pois, além de acreditar no mistério de tudo o que nos acontece, eu tinha aqueles amigos. Com eles, sem grandes conversas nem palavras explícitas, aprendi solidariedade, simplicidade, honestidade, e carinho.
 
Nesta página, hoje, sem razão especial nem data marcada, estou homenageando aqueles, aquelas, que têm estado comigo seja como for, para o que der e vier, mesmo quando estou cansada, estou burra, estou irritada ou desatinada, pois às vezes eu sou tudo isso, ah!, sim. E o bom mesmo é que na amizade, se verdadeira, a gente não precisa se sacrificar nem compreender nem perdoar nem fazer malabarismos sexuais nem inventar desculpas nem esconder rugas ou tristezas. A gente pode simplesmente ser: que alívio, neste mundo complicado e desanimador, deslumbrante e terrível, fantástico e cansativo. Pois o verdadeiro amigo é confiável e estimulante, engraçado e grave, às vezes irritante; pode se afastar, mas sabemos que retorna; ele nos aguenta e nos chama, nos dá impulso e abrigo, e nos faz ser melhores: como o verdadeiro amor.

Lya Luft 

8 comentários:

  1. Mente Celeste

    Amor, eu sei: —, tens o perfume do Éden;
    Na relva florida, admirei tua escultura,
    Colhi os florais do outono, minha Deusa,
    E, beijei o teu brinco de puro bronze.

    Num toque de dedo voltei ao Éden;
    Curei o vermelho do espinho da rosa;
    Estavas lá, no campo, bronzeada!
    Beijei o teu dedo, com todo o meu amor!...

    Arranquei uma pétala da rosa,
    Nas pétalas não havia espinhos;
    Feliz, a língua colou na escultura...

    Um jato acionou o botão do amor;
    A tua euforia era o perfume da rosa,
    Lambi a tua língua, num gozo profundo!...

    Machado de Carlos

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  2. Amizade não deixa de ser uma forma de amor. Um amor distante, um amor de palavras, uma amor de cartas. Em suma, lá em cima você já disse tudo.
    Beijos!...

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  3. Amigos são necessarios, mais que necessarios, são vitais.
    bjos achocolatados

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  4. Esse texto no dia de hj me toca... amigos... isso me emociona.

    Beijos!

    Álly.

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  5. Não podemos escolher a família que temos, mas deus é bom, pois nos dá a possibilidade de escolhermos os amigos.

    Quanto ao amor, o que se usa chamar de alma gêmea, para mim deveria se chamar afinidade, que nada mais é que gostar das mesmas coisas.
    O amor romântico é muito sofrido, não queremos mais sofrer por amor e ficar dando murro em ponta de faca tentando mudar o outro, ao invés disso prefiro um bom papo, sair juntos para passear e dar boas risadas ...

    bjs querida e obrigada pelo mimo que já está lá enfeitando meu blog.

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  6. Amigos muito legal, sim para tua pergunta temos uma amizade, e acho muito bom tê-la, sem cobrança, sem atitudes intempestivas, mas nunca esquecendo 28 de Setembro de 2011, lógico, Dona Lucilany !!!beijos

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  7. ir para cama com inimigo pode ser uma eventura perigosa, mas da tesão, ir para cama com um amigo pode ser tédioso, mas da esperança de longo tesão

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  8. Caríssima!!!

    Estar com vc é uma delícia...seja aonde for...rsrs...

    Mereces todo carinho, por ser especial...

    Beijo carinhoso, adoro te ler...

    ;)

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Aos amigos da LOBA tudo!!! Fala aí, sô!